Clarice Lispector, Homem-Aranha e Galvão Bueno já pregavam: vamos assumir mais nossas responsabilidades
Outro dia vi o Homem-Aranha com meu filho. Me encantei com a história do menino que ganha poderes ao ser picado por uma aranha. Mas o tio dele, antes de morrer, alerta: “Grandes poderes trazem junto grandes responsabilidades”. O que me fez pensar que está cada vez mais difícil formar super-heróis.
Uma colega de trabalho levou um susto tempos atrás. Em sua primeira viagem a campo, em um lugar remoto do Brasil, começou a sentir dores nas pernas. Procurou o médico local, que especulou ser trombose. Mas ele não tinha equipamentos para confirmar o diagnóstico, e liberou a garota. Dois dias e muitas viagens de barco e avião depois, ela foi atendida e medicada. Mas a trombose poderia ter sido confirmada apenas pelo diagnóstico clínico – os sintomas e o histórico familiar eram ululantes. Se o médico a tivesse medicado e orientado ali mesmo, minha colega não teria corrido os riscos que correu, do alto de seus 23 anos.
Outra amiga foi ao ginecologista porque sentia um caroço no seio. O médico mal a olhou e imediatamente pediu exames. Lá foi ela, para os exames todos, por dias sendo perseguida pelo fantasma do câncer. Pois então resolveu ir em um tio médico, que olhou, apalpou o tal caroço, conversou com ela, olhou mais uma vez, grudou um bife em cima e voilà – o câncer saiu: era um berne, uma nojenta larva de mosca que cresce embaixo da nossa pele.