06 dezembro, 2010

Mais amor, por favor

Meu filho estuda em uma escola cheia de pais como eu – classe média alta, meio intelectual, meio de esquerda, hippiechique, conscientes dos problemas globais, preocupados com a desigualdade social.  Todo mundo ali é bem-intencionado, quer melhorar o país e o mundo, tem um trabalho descolado, usa crocs e tem pele bonita.

Claro que a escola é construtivista, nem precisava dizer.  Pois o tema de estudo deste ano é África.  As crianças estão sendo apresentadas ao continente por meio de um livro infantil que conta a história de um menino no Chade.  Meu filho já chegou em casa com carro feito de latinha.  Outro dia me trouxe um colar de estopa, muito colorido e bonito.

Na última reunião de pais, a professora mostrou o livrinho, página por página, para nós, pais, conhecermos um pouco o que nossos filhos andam fazendo enquanto a gente trabalha para melhorar o país e o mundo.  Lá pelas tantas, uma mãe muito consciente e preocupada com a humanidade atentou para o cuidado que é preciso ter ao tratar de tema tão delicado: “Como a escola está lidando com a questão do preconceito racial, considerando que nossos filhos não convivem – infelizmente – com crianças de cor negra?”

A coordenadora, com uma paciência de dar inveja a Jó, respondeu que o tema é tratado justamente trazendo para o dia a dia das crianças uma história cujo protagonista é negro.  (Da série Respostas Cretinas Para Perguntas Imbecis).  Do outro lado da sala, uma mãe insistiu: “Concordo que o tema é bem delicado, pois minha filha nunca tinha falado nada sobre a faxineira, até que outro dia ela falou na frente da moça: ‘Olha!, você é marrom!’” A mãe ficou constrangida: “Não sei nem por que ela falou isso, pois a moça nem negra é… ela é mulata… na verdade, nem mulata ela é… ela é assim, como vou dizer…” Enquanto ela buscava, sem sucesso, a palavra correta, um pai perguntou, maroto: “…ela é marrom?” A turma riu e a reunião acabou.

Realmente, o tema é difícil.  O mundo vem mudando quanto a isso, mas às vezes tenho dúvidas se a onda politicamente correta mais atrapalha que ajuda.

PRECONCEITIS Quando era criança, um dos meus ídolos era o Mussum, dos Trapalhões.  Não perdia um episódio, nas velhas tardes de domingo na Globo.  Outro dia fui rever, no YouTube, algumas cenas clássicas do humorista que eu mais amei na infância, e fiquei perplexa.  O Mussum simplesmente não existiria hoje em dia.  Um personagem negro, bêbado e que falava errado, fazendo apologias semanais ao álcool no programa infantil mais famoso da televisão brasileira.  Definitivamente, o mundo mudou.

No meu tempo de faculdade, o preconceito era tratado de uma forma bastante peculiar.  Ao contrário do mundo politicamente correto aqui de fora, no curso de Geologia o que cada um tinha de diferente não era tratado com o cuidado cirúrgico dos dias de hoje, mas escancarado.  Lá, todo mundo era conhecido não pelo nome, mas por apelido.  É narigudo?  Tamanduá.  Tem perna comprida?  Seriema.  É pálida e esquálida?  Mortiça.  É negro?  Feijoada.  Usa aparelho?  Fepasa.  É velho?  Brotinho.  Hoje, talvez isso fosse considerado bullying e seríamos obrigados, por liminares judiciais, a nos chamar de Leonardo, Daniela, Marcelo.

Não sei se nossos apelidos prejudicavam nossa identidade, nos desrespeitavam, feriam nossos direitos individuais.  (Não sou cientista social ou antropóloga, sou geóloga).  Mas, para mim, aquilo foi o começo de uma grande experiência de reconhecimento e respeito ao diferente, ao outro.  Ao escancarar nossas peculiaridades, nos desprendíamos de nossos preconceitos pelo avesso.  Nunca vi um curso tão diverso, com pessoas tão diferentes, de várias partes do país, de várias classes sociais, raças, crenças e opções sexuais, estreitarem laços e conviverem tão intensamente.  Nomeando nossas diferenças, chegávamos a algum estranho campo de aceitação sobre elas.

Não ouso recomendar a técnica de apelidamento cruel para toda a sociedade, nem a reprodução do Mussum em horário nobre.  Mas é nítido o desajeito das pessoas com o tema do preconceito.  Ainda não sabemos lidar com o assunto.  Talvez a gente só consiga testar verdadeiramente nossos preconceitos quando tivermos efetivamente diversidade social, racial e sexual.  Somente quando a escola do meu filho tiver mais, muito mais meninos negros e marrons, é que poderemos verdadeiramente julgar a dificuldade daquela mãe perante a constatação da filha.

Uma coisa é clara: o preconceito não vai conseguir ser superado apenas com leis ou regras sociais impostas pela bandeira do politicamente correto.  O convívio com o diferente não pode ser um casamento por conveniência.  Ele precisa ser um casamento por amor.  Amor ao próximo.  Teoria de botequim: na Geologia, éramos cruéis uns com os outros, mas nos amávamos.  Já ajuda.
(Publicado originalmente na Revista Página 22 - www.pagina22.com.br)

10 outubro, 2010

Um jacaré e duas preguiças pra viagem, por favor

Tempos atrás visitei a Amazônia em um esquema turístico, ficando em um desses lodges à beira do rio. Acostumada com viagens de trabalho ou de mochileira, eu me adaptei à nova vida com criança pequena e lá fui com filho, sobrinhos e primos para um pacote “na selva”.  Desconfortável com o conforto excessivo, achei que a experiência podia não ser a mesma com tudo tão estruturado. Bobagem.  A viagem foi sensacional.  Só não sei se o meu entusiasmo foi compartilhado pelos turistas que encontrei por lá.

Na chegada, o gerente me ganhou.  Simpático e paciente, mostrou um mapa das áreas protegidas e desmatadas na região, falando rapidamente sobre a destruição da floresta.  Mas, enquanto eu ficava pateticamente tentando forçar a criançada a prestar atenção no arco do desmatamento e no avanço da soja, elas corriam das mães que insistiam em passar o repelente pela quinta vez naquela manhã.

Logo na primeira noite, saímos para a tão esperada “focagem de jacaré”, uma unanimidade entre as crianças.  Enquanto pulávamos para dentro do barco, o guia, um morador local simpaticíssimo, alertava que não é sempre que a gente vê o bicho, mas que o objetivo era também encontrar outros animais.  Tudo ia bem, as crianças animadas.  Mas comecei a sentir que alguma coisa estava errada quando um pai respondeu: “Ué, mas não existe aqui algum lugar onde os jacarés se concentram, que não tem erro, a gente vai e encontra o bicho?” Diante da resposta negativa do guia, alguns pais se entreolharam, desconfiados.

As duas preguiças que observamos no caminho não deram muito o que falar entre os adultos: uma muito no alto e muito longe, a outra mais próxima, mas com a cabeça escondida.  A cobra, equilibrada em um galho de árvore, era esquálida demais e, pra piorar, não se mexia.  Quando o clima já era de querer o dinheiro de volta, o jacaré apareceu triunfante, olhões diante das lanternas, corpo inteiro fora d’água, fuga rápida, desempenho perfeito.  Pais contentes e motim abortado.  (As crianças, obviamente, já estavam contentes há tempos, com o barco, com as lanternas, com a noite, com o rio, com as preguiças e com a cobra.)

No dia seguinte, na visita à comunidade de artesãos, os turistas não tiveram tempo de olhar para os meninos esculpindo as madeiras, afoitos que estavam para chegar primeiro à lojinha.  Fizeram sua parte: saíram com sacolas e mais sacolas – e mais sacolas.  Perderam a gargalhada gostosa do rapaz terminando um peixe-boi, o jardim fresco com a mangueira carregada, a praça bonita.

O passeio de canoa pelos igapós também frustrou algumas famílias: “Tudo muito igual”.  De bedelho na conversa da mesa ao lado durante o jantar, ouvi um jovem marido comentar com a mulher que tinha gostado da visita às grutas, mas estava contrariado.  “Não entendi por que a gente foi até a última: não tinha nada diferente das duas primeiras, não agregou nada!”

Sair pela madrugada para ver o sol nascer também não era assim tão extraordinário, porque raramente se via o sol – ou muita bruma, ou muito nublado, vai saber.  Parece que os pássaros também não agregavam muito – eram poucos e não cantavam tanto.  De volta do passeio à comunidade cabocla, um menino de 5 anos não parecia contente.  Ansioso com a promessa repetida dos pais de que ele conheceria uma aldeia indígena na viagem, ele suspirava, chateado.  “Foi legal, mas não tinha índio, só tinha gente!”

Eu mesma entrei na onda.  Hospedada na beira de um dos mais belos rios do mundo, fui perguntar na recepção se não tinha por ali um igarapé escondido para nadar, alguma água boa, fresquinha, sem ninguém, algum lugar diferente, “que não tem erro”.  Não tinha.  O gerente foi educado: “Lamento, mas banho só no rio, mesmo”.

Pois foi só naquele rio mesmo que nadei todas as outras manhãs, na companhia de alguns barcos passando e passarinhos voando baixo, desfrutando do silêncio e da solidão, da água fresca na pele, da luz do sol no olho e a sombra da vegetação amazônica na paisagem.  E quis morrer ao pensar que eu mesma tinha embarcado no turismo do inédito, do exclusivo, do turismo que “agrega”, do turismo de resultado.

A graça da floresta não está no que ela tem de único, mas no que tem de trivial.  Você não precisa tropeçar a toda hora em bichos, paisagens e gentes, como se fosse ticando uma lista de compras.  O país dos índios é o país dos caboclos, a floresta tropical com a maior diversidade do planeta é a mesma floresta das noites silenciosas, com uma solitária preguiça no alto da árvore.  Preguiça de cabeça escondida, sim, mostrando, ao não se mostrar, a beleza, a beleza da natureza brasileira.

Não tem erro: o olhar do turista para a nossa biodiversidade precisa ser outro.
(publicado originalmente na Revista Página 22 - www.pagina22.com.br)

11 abril, 2010

Decifra-me ou te devoro

Você está no supermercado e quer comprar sorvete. Ao chegar na prateleira, pega seu iPhone, direciona para o código de barras do pote escolhido e imediatamente recebe informações detalhadas sobre aquele Menta Choc Chip: valor nutricional, produtos químicos na fórmula, corantes artificiais, além do desempenho da empresa em relação à energia, resíduos, poluição, bem como questões trabalhistas. Parece futuro? Pois é presente. O site GoodGuide disponibiliza relatórios de mais de 70 mil produtos para ajudar o consumidor a escolher melhor.

A iniciativa é do professor Dara O’Rourke, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, que um dia decidiu investigar o que continha no filtro solar que pretendia passar no rosto da filha. Descobriu duas substâncias tóxicas.

A partir daí, passou a investigar produtos e a atribuir notas por seu desempenho nas áreas de saúde, ambiental e social. A ideia é ajudar o consumidor a ser menos refém das letrinhas miúdas e impronunciáveis que compõem a lista de ingredientes dos produtos, na busca de compras que garantam melhor saúde para nós e para o planeta.

Mas no mundo de hoje, tão cheio de escolhas, e cada vez mais difíceis, será mesmo informação o que nos falta? Ou a informação nos torna ainda mais reféns na sociedade de consumo?

Tomemos o caso dos produtos alimentícios. Quando eu era pequena, adorava tomar Yakult e imaginar que estava ingerindo uma trupe de lactobacilos vivos. Sentia-me o próprio Yuri Gagarin, consumindo algo com “nome científico”. Hoje, somos todos astronautas. Um dia comprei um ovo com data de validade na casca e enriquecido com três vitaminas. Outro dia escutei de um amigo: “Hoje, preciso comer na rua, não tem proteína em casa”.

Eu fico desolada. Quando foi que comida virou coisa? Quando foi que brócolis, ovo e bacon viraram fibra, colesterol e gordura saturada? Macarrão e bife não existem mais. Agora é carboidrato e proteína. Peixe é ômega 3. Arrancaram da gente a comida e nos devolveram nutrientes, antioxidantes, vitaminas. O problema é que, ao fazer isso, deslocaram a capacidade de escolha da gente para os especialistas. E, assim, sucumbimos a eles…

O escritor Michael Pollan, autor de vários livros sobre alimentação, compartilha da minha desolação. E alerta para os perigos dessa simplificação. As pessoas não comem nutrientes. Comem comida. A ciência reducionista aplicada pelos nutricionistas modernos desconsidera, de um lado, a complexidade da comida e, do outro, a complexidade do ser humano que a come.

O betacaroteno da cenoura foi identificado como poderoso para evitar o câncer. O que os cientistas fizeram? Desenvolveram suplementos de betacaroteno que, isolados, eram ou inertes ou mesmo aumentavam o risco de câncer! Nós simplesmente não sabemos absolutamente nada sobre as cenouras, nada sobre as interações dentro da cenoura, e dela com o nosso corpo.

Para Pollan, a comida não é uma coisa, é uma relação. Se você tomar café preto com seu bife, seu corpo não vai absorver direito o ferro da carne. Dependendo de minha herança evolucionária, sou mais ou menos apto a digerir lactose. A ecologia intransferível do meu intestino define o quanto vou conseguir transformar calorias ingeridas em energia. A relação homem-comida não pode ser considerada uma relação de combustível-veículo.

Nessa confusão de informações e escolhas, Pollan sugere que o melhor a fazer é depender de nós mesmos. De nossa cultura, da sabedoria de nossa “tribo”, de nossas mães, avós e amigos. Sempre soubemos quando um ovo está podre, quando um iogurte talhou, quando uma verdura está fresca.

O que fazer? Coma comida, aconselha Pollan. Não coma nada que sua tataravó não reconheceria como “comida”. Hoje existe uma série de substâncias comestíveis no supermercado, com cara de comida. Em geral, elas vêm com avisos insistentes de que fazem bem à saúde. Fuja delas. Uma declaração acintosa de “saudável” é forte indício de que aquele produto não é comida. Evite produtos que contêm muitos ingredientes que você não consegue pronunciar: é, no mínimo, sinal que aquilo foi muito processado. Coma plantas, especialmente folhas. Coma mais do jeito dos franceses – eles têm uma dieta rica em gordura e álcool, mas são saudáveis por conta de seus hábitos: porções pequenas, sem “lanches”, e refeições sempre coletivas – quando a gente conversa mais, come menos.

Ferramentas como o GoodGuide podem ajudar nas escolhas, mas em última instância, siga seus instintos. Deixe sua cultura e sua história serem seus guias, não a ciência. Eu acrescentaria: quando der vontade de comer bacon, desligue seu iPhone e vá fundo. Os cientistas têm feito a gente acreditar que comemos apenas para manter nosso corpo eficientemente saudável e em funcionamento. Mas a gente também come porque é bom. Muito bom.
(publicado originalmente na Revista Página 22 - www.pagina22.com.br

08 fevereiro, 2010

O exemplo mora ao lado

Outro dia, saindo do prédio, o síndico me pegou de surpresa.  “Você recicla seu lixo?”  Espanei: “Claro!”  Era uma redonda e vergonhosa mentira.  Ele só queria indicar o local do lixo convencional.  E eu, já afundada na lama.  Podia ter argumentado que havia me mudado recentemente, não conhecia bem o bairro, que a falta de carro difi cultava transportar os recicláveis.  Tudo desculpas.  Não, eu não reciclo meu lixo!  Não parece tão difícil confessar essa simples verdade.  Mas, naquele momento, foi.  Fui impelida a mentir para meu novo vizinho, um ilustre desconhecido, quiçá ele mesmo um não reciclador, um consumidor de mogno, um matador de focas marinhas.

O que me conforta é saber que não estou sozinha.  E que reações patéticas como a minha vêm inspirando novas estratégias ambientalistas.  Elas se baseiam na economia behaviorista, que parte do seguinte pressuposto: o ser humano é complexo, e adota muitas vezes determinados comportamentos que fogem da escolha racional preconizada pelas leis econômicas tradicionais, da busca pela opção que maximize o interesse próprio.

Muitos instrumentos motivadores de mudanças comportamentais baseiam-se na racionalidade econômica.  A comercialização de créditos de carbono, por exemplo: se proteger a floresta é lucrativo, é o que eu vou fazer.  Mas tem comportamentos que fogem desse tipo de escolha.  Também fazemos coisas irracionais do ponto de vista estritamente econômico, como arriscar a vida para salvar da morte um estranho na rua.  Ou – menos altruístico mas tão irracional quanto – agir apenas para impressionar nossos vizinhos. 

O psicólogo comportamental Roberto Cialdini, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, colocou pequenas mensagens em quartos de hotel para checar o quanto elas infl uenciariam os hóspedes a reusarem ou não suas toalhas antes de considerá-las sujas.  Mensagens dizendo que reusar as toalhas era bom para o meio ambiente não tiveram praticamente nenhum impacto sobre os hóspedes.  Mas quando ele alterou a mensagem para algo como “a maioria dos hóspedes deste quarto reutilizou a toalha pelo menos uma vez durante a estadia”, o número de pessoas que passou a reusá-las aumentou em expressivos 30%.

Segundo ele, a reação remonta a um instinto de sobrevivência, a um comportamento quase involuntário, de querer compartilhar das mesmas situações e comportamentos das pessoas parecidas conosco, da mesma forma que pássaros buscam seu bando ou abelhas um enxame.

Em outra pesquisa, ele enviou pequenas mensagens na conta de luz de quatro grupos distintos de residências de um bairro americano.  Cada uma incentivava a redução no consumo por uma razão diferente: pelo bem do planeta, pela qualidade de vida das futuras gerações, para economizar dinheiro, e pelo fato de que, comparado a seus vizinhos, quem recebia a correspondência podia ser um gastador.  Apenas o último grupo reduziu efetivamente seu consumo – em 10%.

O pesquisador foi até chamado a apresentar os resultados da pesquisa perante o Congresso americano, interessado em formas inovadoras de desestimular exageros no consumo energético.  E virou sócio de uma empresa cujos clientes são de diferentes distribuidoras de energia e gás americanas.  O que eles oferecem é de uma singeleza chocante: contas simples de ler e com informações sobre o consumo de cada cliente em comparação com seus vizinhos de perfi l parecido.  Resultados vêm mostrando redução de 3% a 6% no consumo, dependendo da região onde o programa se instalou.

Dois conceitos permeiam essa descoberta.  O “paternalismo liberal” defendido por Richard Thaler e Cass Sunstein, dois professores da Universidade de Chicago, sugere que o Estado deve dar um "empurrãozinho" (nudge, em inglês) para que a população tome melhores decisões, por meio da maior disponibilização– ou cuidadosa seleção – de informações.

Para eles, essa “arquitetura da escolha” não afetaria a liberdade individual, apenas auxiliaria na busca por mais racionalidade nas decisões.  Exemplos dessa arquitetura são a ordem em que os objetos são exibidos nas prateleiras ou a força da inércia na decisão de ser um doador de órgãos – em vez de ter de escolher ser um doador, o indivíduo tem de escolher não ser um doador.  Manipulação ou não da informação, o fato é que muitas vezes funciona.

É claro que essas estratégias não são mágicas e têm efeito limitado.  Uma boa tecnologia de energia alternativa vale mais que contas com mensagens provocantes.  Mas, na urgência de mudanças, tudo vale a pena.  Sabe aquela ladainha da sua mãe, de dar o exemplo?  Ela tinha razão.  Eu, do meu lado, entrei em 2010 reciclando todo o meu lixo – um pouco também na torcida de que meu vizinho esteja lendo esta coluna.
(publicado originalmente na Revista Página 22 - www.pagina22.com.br